Associação dos Oficiais
Policiais e Bombeiros
Militares do Estado
do Paraná

Carreira

10.07.2018

Oficial faz "raio-x" de Companhia e implementa modelo de gestão

 

Mudança da escala de serviço, melhorias das instalações, implantação do policiamento comunitário, instrução como parte da rotina ao efetivo, redução dos crimes contra o patrimônio e a vida. São apenas quatro meses. Mas o que era para ser uma missão rotineira, comandar uma Companhia Operacional na região metropolitana de Curitiba, foi além. O Capitão Luciano Cordeiro percebeu que se tratava de uma grande oportunidade para colocar em prática todo o conhecimento adquirido nos bancos acadêmicos do Guatupê. O Militar Estadual passou um mês estudando a Companhia, responsável pelo policiamento de Almirante Tamandaré e Campo Magro, antes de assumir o Comando, em fevereiro deste ano. O que o Oficial identificou, resultou em um relatório de “Boas práticas na Gestão do Comando de Companhia Operacional Destacada”, que pode inspirar um trabalho mais coordenado em Subunidades e afins.

 

O documento conta com três fases que servem como norteadoras do trabalho desenvolvido na Cia.: Análise de Cenário e Relatório de Gestão; Análise Criminal e Implementação das novas escalas e por fim as Ferramentas de Gestão, a serem aplicadas pelo Comandante, como explica o Capitão Luciano. “O trabalho que eu desenvolvi incialmente foi realizar a análise minuciosa no âmbito da Cia., apresentar-me e conhecer a tropa, as lideranças comunitárias, políticas e dos Poderes Judiciário e Legislativo locais. Ao mesmo tempo, entender as atividades que cada um desenvolvia na Companhia, além dos pontos fortes e os que podem ser aprimorados, no âmbito da Administração e Operacional da Cia.”, disse o Capitão.

 

Ao trabalho

 

Mas, como tinha data para assumir o Comando da 2ª Cia/22ºBPM, o Militar Estadual estipulou metas a curto, médio e longo prazos e entregou o Relatório de Gestão ao Comandante imediato no término do 1º Mês. O desafio estava lançado, manter os pontos positivos do trabalho até então desenvolvido pelo Comandante anterior, como redução do número de homicídios dolosos, mas avançar em outras frentes, entre elas o combate ao tráfico de drogas, lesões corporais e abusos contra crianças, adolescentes e idosos. Cabe ressaltar que em 2015 foram 110 homicídios na região; em 2016 foram 82 mortes violentas e em 2017, 42 homicídios, segundo dados da SESP. O perfil das vítimas neste levantamento constatou que 94% eram jovens entre 15 a 29 anos, negros, semianalfabetos e que tinham algum tipo de envolvimento com o tráfico de drogas. 

 

No segundo momento, passado o da análise de cenário, o Comandante da Cia. formulou a nova escala de serviço. Etapa que dura em torno de três meses e passa por avaliação da infraestrutura, pessoal e análise criminal, estima o Capitão Luciano. “Em primeiro lugar o Oficial deve analisar o número de viaturas, suas condições, conciliar os dias para suas revisões (conforme os dias de menor índice criminal), para que estejam em condições de rodar, principalmente nos dias e horários de pico de atendimento de ocorrência. Em seguida, verificar a disponibilidade do efetivo, controle das licenças, dispensas, folgas e quem está disponível. Observadas estas condições, é passada para uma terceira fase, a análise das demandas: denúncias anônimas (181) e de origem conhecida (PMs, Lideranças Comunitárias, Políticas, dos Poderes e da Comunidade local), as ferramentas técnicas (BI, CAPEGEO, SISCOP), por fim, considerar e atender as ordens superiores. Encerrado este processo, o Oficial Subalterno leva ao Comandante da Cia. para análise final e assinatura da escala”, disse o Capitão.

 

Mudanças

 

 

Foi justamente o que ele fez na 2ª Cia/22ºBPM, implantou sistema de, no mínimo, uma instrução por mês com o foco no “empoderamento” do PM, alterou as escalas conforme as demandas, implementou um novo Cartão Programa justificando tecnicamente seu uso, e reajustou o trabalho das cinco equipes, que passaram a atuar nos eixos comerciais e rurais, operações em conjunto com outros órgãos do Estado e Município e a aplicação ‘’piloto’’ policiamento comunitário em áreas previamente identificadas nos dois municípios da Cia como áreas de risco, sobretudo no combate ao tráfico de entorpecentes. Com as adequações realizadas a partir destas observações, segundo o Oficial já é possível constatar a diminuição expressiva em crimes contra o patrimônio (furtos e roubos), a estabilidade em homicídios dolosos, em especial, a aproximação da PM com os vários setores da sociedade. “A segurança pública não se faz sozinha. A integração entre as nossas equipes e a comunidade, o comércio, os Poderes, é fundamental. E hoje temos a confiança de que quando atuamos ouvindo as demandas da sociedade, de forma técnica e em conjunto com outros órgãos, nossa força é muito maior e alcança uma dimensão crescente no âmbito da criminalidade”, comemora o Capitão Luciano.

 

Ferramentas

 

Ultrapassadas as primeiras etapas das “Boas práticas na Gestão do Comando de Companhia Operacional Destacada”, identificadas pelo Capitão Luciano Cordeiro, é chegada a hora de analisar as Ferramentas de Gestão, indispensáveis para o bom andamento da Cia.

 

A Análise Criminal é realizada com base nas seguintes ferramentas: BI; Capgeo; Siscop; 181, Denúncias anônimas e de origem conhecida, informações dos próprios PMs da Cia; Reuniões com líderes comunitários, políticos e dos Poderes Judiciário e Legislativo.

 

Filosofia Polícia Comunitária. Com base neste tipo de policiamento é possível alcançar uma fração dos 2/3 de crimes que, conforme os estudiosos criminais, não chegam ao conhecimento da Polícia. “E aqui, abre-se um leque enorme no sentido de trabalhar com a sociedade em suas demandas. Ou seja, à medida que forem chegando ao nosso conhecimento, precisamos dar uma resposta pontual. Seja uma palestra numa escola, seja na alteração do Cartão Programa, seja repassando informações à inteligência ou outros órgãos, entre outras providências. O importante é dar resposta diante de uma demanda”, afirma o Capitão. 

 

PDCA e POPs. Planejar, Desenvolver, Controlar e Analisar compõe fases de um processo que pode ser aplicado no âmbito da Cia. “Importante lembrar que o gestor público (líder) deve instruir antes de cobrar qualquer tipo de ação, ou seja, deve demonstrar, ensinar e, após isto, acompanhar e controlar o desenvolvimento das ações. Ao final do processo, fazer a análise e discutir o que deu certo e o que pode ser melhorado. Sendo que o que deu certo, transforma-se em POP (Procedimento Operacional Padrão) e que só poderá ser modificado, mediante nova análise e proposição de reformulação da POP ou criação de uma nova”, explica o Capitão Luciano.

 

Gestão Participativa. Momentos em que o Comandante participa de ‘’rodas de conversa’’ com a tropa, no sentido de mediar trocas de experiências, ouvir opiniões sobre demandas da Cia e orientar e redirecionar, quando necessário, o rumo dos trabalhos. ‘’Todos devem se sentir parte da resolução do problema. Essa participação pode ser implementada com pequenos e grandes grupos, como nas instruções e nas passagens de serviço”, exemplifica o Oficial.

 

Por fim, a Mídia, como instrumento fundamental para divulgar as ações da Cia. “Serve para mostrar a sociedade as operações ordinárias e extraordinárias da PM, bem como transmitir e melhorar o sentimento de segurança da população”, analisa o Oficial.

 

Mais resultados

 

Um efetivo mais satisfeito e produtivo. Aumentou o número de Termos Circunstanciados de Infração Penal (TCIP), também cresceu a quantidade de apreensões de armas de fogo e cumprimento de mandados de prisão (os policiais que realizam as duas últimas atividades são recompensados na forma de ‘’destaque do mês’’). Hoje a equipe está mais engajada, o Comandante participa da maior parte das trocas de serviço e realiza mediação de experiências entre os mais antigos e os mais modernos.

As instalações da Cia. também mudaram nesses quatro meses. Com verba do fundo rotativo, o Comando fez melhorias visuais e reformou o refeitório da unidade, presando a qualidade de vida dos Militares Estaduais. 

 

  

“Com essa política de boas práticas é possível implementar uma metodologia de trabalho baseada em estudos e análises. Também é fundamental ter tudo documentado para que o trabalho possa ter continuidade e sirva de base para o próximo Comando”, finaliza o Capitão Luciano Cordeiro.